Não se politiza a saúde e nem a economia

Não se politiza a saúde e nem a economia

Não se começa a construir uma casa pelo telhado. É preciso organizar, planejar, traçar as metas e ter um projeto consistente para que o resultado seja seguro e atenda os objetivos. Assim é em tudo na vida e também precisa que seja assim na hora de se resolver uma crise tão devastadora como a que estamos enfrentando em razão desta pandemia. As estruturas governamentais não podem trabalhar como polias soltas. É preciso que haja uma interação e uma sinergia entre todos os poderes constituídos, principalmente entre os Ministérios da Economia e da Saúde.

É fundamental que tenhamos um centro de controle e métodos, criando assim uma linha central de trabalhos e protocolos para que todos os agentes na linha de frente desta pandemia saibam o que fazer e sigam as mesmas condutas. Não pode cada um, cada Estado, cada Município, fazer aquilo que bem entende (ou não entende) ou se render às influências políticas. O único caminho a seguir é a ciência na área da saúde e programas de incentivo na área econômica.

Não há mais como negar que o uso de máscara e o distanciamento social são fundamentais para conter a propagação deste vírus, assim como é fundamental os cuidados com o uso de álcool em gel e a higienização constante. Mas só isso não basta. Precisa que haja uma coordenação central de produção e distribuição das vacinas, tecnicamente aprovadas pela Anvisa, para imunizar a população de forma rápida e com toda a segurança que as campanhas nacionais de vacinação no Brasil sempre tiveram.

Em paralelo às ações da saúde, cuidando das pessoas e salvando vidas, o Ministério da Economia precisa implantar as ações necessárias para que as pessoas tenham condições de alimentar sua família, pagar as contas. Caso contrário, é impossível manter um pai ou uma mãe, arrimo de família, em casa sem trabalhar. É preciso que o Auxílio Emergencial seja rapidamente liberado para quem precisa e com um valor compatível a uma compra de supermercado, ao pagamento de um aluguel, por exemplo. Caso contrário, é tentar tampar o sol com a peneira.

E é fundamental que os segmentos econômicos, que geram emprego e renda, também sejam assistidos pelo governo para que possam passar por esse tsunami, se recuperar, voltar a abrir as portas e as pessoas recuperem seus empregos. Mas essa política de retomada e fomento de novos negócios tem que ser transparente, clara, objetiva e que verdadeiramente chegue à ponta. Não adianta nada lançar programas que não saem do papel ou que ficam parados na gaveta dos bancos.

No ano passado, aprovamos no Congresso Nacional o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), mas poucos foram os que conseguiram obter as linhas de crédito. Com juros muito abaixo do mercado financeiro, obviamente os bancos não se mostraram interessados em promover e incentivar a obtenção deste crédito, além do excesso de burocracia e as exigências para a aprovação dos empréstimos, não atingiu os objetivos.

O Pronampe precisa retornar, mas de forma verdadeiramente acessível para que os micro e pequenos empresários possam contar com as linhas de crédito. Ninguém, seja pessoa física ou jurídica, quer contrair empréstimo à toa. Quem faz isso, faz porque necessita, ainda mais agora. Basta ver a quantidade de aposentados e pensionistas que estão sufocados pelos empréstimos consignados, muitas vezes obtidos para ajudar um filho que perdeu o emprego e passa por dificuldades. E esse é um tipo de crédito que a pessoa não tem opção de pagar ou não. Só que, durante essa pandemia, quem não pode pagar, tem que ter como alternativa entrar em contato com sua agência bancária pedindo que o desconto dos próximos quatro meses seja transferido para o final do contrato. Esse é o projeto que apresentamos e aprovamos no Congresso e tem que ser sancionado rapidamente pelo Governo Federal.

Enfim, há um ano, estamos vivendo os efeitos incertos deste vírus, seja no que ele é capaz de causar em nosso organismo; seja nos reflexos econômicos, no desemprego, na falência de empresas e é isso o que as pessoas não agüentam mais. Viver essa incerteza é tão letal quanto a contaminação pela Covid-19.

É fato que a Covid-19 pegou o mundo de surpresa. Ninguém imaginava que seria esse caos, mas é certo que os países que ser organizaram, que se estruturam, tomaram decisões sérias e ações claras, transparentes e não se apequenaram em seus próprios mundos, estão saindo dessa crise. Enquanto isso, nós os brasileiros, um ano depois, não encontramos leitos nos hospitais e nem vacinas suficientes para imunizar a população de forma rápida e segura. Isso precisa mudar!

 

Marco Bertaiolli é deputado federal, 1º vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e membro da Comissão Nacional de Seguridade Social e Família do Congresso Nacional. Está em seu primeiro mandato