O mês era dezembro e o ano 2019 quando surgiram as primeiras notícias a respeito da descoberta de um novo vírus na China. Era finalzinho do ano e pouca atenção foi dada, afinal era algo que acontecia do outro lado do mundo, numa província da China. Mas no chamado mundo globalizado não existe outro lado do mundo. Não há fronteira capaz de barrar algo que não se pode ver a olho nu. E hoje vivemos uma pandemia sem precedentes e de reflexos incalculáveis.
Ninguém, nenhum especialista ou expert seja de qual área for, é capaz de mensurar como serão os próximos meses de nossas vidas. Todos os esforços para conter a disseminação do Covid-19 estão sendo feitos, assim como os estudos científicos em busca de um medicamento. Mas o resultado disso tudo na vida das pessoas ainda é absolutamente incerto. Assim como é imprevisível o impacto na economia no Brasil e no mundo.
Apesar de ainda ser considerado cedo para fazer projeções definitivas, dados estatísticos apontam que apenas 11% das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) possuem capital de giro suficiente para se manter por um mês sem novas entradas de caixa. E ninguém sabe por quanto tempo as medidas restritivas vão durar, se mais setores serão afetados ou se daqui 15 dias, tudo já poderá voltar ao normal. Toda essa situação é como febre em criança. É preciso medir de hora em hora, para saber se aumenta ou diminui a dose do remédio.
Estima-se que 98% da produção econômica do Brasil venha das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), que são responsáveis por 75% da mão de obra empregada no Brasil. Mas existe uma grande massa trabalhadora que chama a atenção: os informais. São as diaristas, a manicure, a cabeleireira, a dona de casa que faz salgado e bolo prá fora; o aposentado que monta uma barraquinha na calçada e vende aquilo que a mulher cozinha em casa.
Nesses segmentos, o Sebrae estima que há mais de 13 milhões de pequenos negócios que empregam 21,5 milhões de pessoas e uma massa salarial de mais de R$ 611 bilhões anuais. É o dinheiro que entra para pagar o aluguel, pagar a luz, a água, fazer a compra do mês e até o remédio de todo dia. Eles não possuem capital, nem poupança. Vendem o almoço de hoje, para comprar a janta de amanhã, como diriam os mais antigos.
Sabe-se, ainda que sem muita precisão, que serão eles os mais afetados. Mas a grande pergunta, hoje, é como vão conseguir enfrentar tudo isso e ter fôlego para daqui um, dois, três meses, voltar à vida de trabalho? Essa, aliás, é a grande incerteza que permeia os informais, mas também que angustia as MPEs, as grandes empresas e até os conglomerados que antes eram considerados acima de qualquer abalo.
Assim como as medidas de prevenção e cuidados na área da saúde estão sendo tomadas com a maior responsabilidade e cautela, é preciso que as medidas econômicas sigam dentro dessa mesma postura de seriedade e, como na febre da criança, também sejam aferidas e ajustadas. Hoje é um cenário, daqui um mês, dois, três meses, viveremos uma nova realidade.
Com base nas características da crise e observando o que tem acontecido em países como China, Coréia do Sul, Itália e Irã, que tiveram uma explosão de casos do Coronavírus antes do Brasil, poderemos encontrar os caminhos que nos tirarão dessa estrada tortuosa. Até, porque, se estamos em crise, todos os outros também estão. Não precisamos inventar a roda, e sim buscar as soluções onde ela já foi encontrada. Afinal, a crise também é globalizada.
Fato é que no Brasil, ou na China, na Itália, na Espanha ou nos Estados Unidos, ninguém saíra dessa pandemia igual. Todos, dentro de suas casas ou trabalhando nos serviços essenciais que não podem parar, vivem uma reflexão interna sobre o que o planeta está tentando nos dizer. Independentemente da religião ou credo, a grande pergunta hoje é: para onde caminha da Humanidade?